Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

O humor e as expectativas predominantes no cenário global e, em especial no Brasil, denotam impactos negativos e confrontam com o clima de otimismo prevalecente até bem pouco tempo, alterando as projeções anteriormente propagadas.

Este mês de dezembro vem sinalizando que a liquidez do mercado global tende a ser bem menor em 2019; que o comércio mundial pode perder volume; que os entraves entre União Europeia e Reino Unido ainda são relevantes; que a economia americana continua “bombando”, mas há sérios receios em torno de cenários futuros e tendência de recessão “; há maiores duvidas agora sobre a postura que será adotada pelo FED americano face aos juros, etc… e isto tudo e de inúmeras formas naturalmente tende a afetar as expectativas em torno dos países emergentes, que são demandadores e continuamente carentes de recursos externos.

Esta semana o foco é sobre a postura do FED americano que deve aumentar mais uma vez a taxa de juro, mas mais relevantes é a sinalização que emitirá, pois há uma crescente percepção de que poderá perder a convicção segura sobre a continuidade das elevações do juro americano, dado os questionamentos sobre a sustentabilidade do crescimento da economia americana.

Por outro lado, as expectativas internas em torno do novo governo brasileiro sinalizam ter entrado numa fase de maior ceticismo, tendo em vista que as expectativas de curto prazo em torno das reformas, com ênfase a da previdência, já não indicam soluções imediatas e podem demandar o 1º semestre próximo no seu todo com discussões e debates no seu entorno, e com isto prolongam-se as perspectivas de equalização da severa crise fiscal.

As boas intenções do novo governo merecem total aprovação, porém não há definições efetivas de “como” serão efetivamente focadas e as perspectivas de viabilização.

O Brasil está com a inflação absolutamente controlada, projeção do IPCA para este ano em torno de 3,7%, juros estáveis em torno de 6,5%, situação cambial absolutamente tranquila sem riscos de crise, porém a atividade econômica está praticamente estagnada, com crescimento projetado para o PIB de 1,30% ou menos, com o IBC-Br do ultimo trimestre com crescimento de tão somente 0,02% e para o 4º trimestre sinalizando piora, baixíssima capacidade de gerar emprego, renda e consumo e com fraca atratividade para investimentos produtivos.

Sem solução para a crise fiscal, tudo que se prognosticar para o país é frágil e vulnerável.

O Brasil, como salientado e evidenciado pelos números das suas contas externas, tem uma situação de absoluto conforto no campo cambial, mas as expectativas afetam a formação do preço da moeda americana no nosso mercado, tanto a vista quanto a prazo, este sob intenso embate especulativo entre “comprados” e “vendidos” com posicionamentos expressivos e que tem se feito duradouro.

As projeções absolutamente tranquilas de fechamento do ano com taxa cambial entre R$ 3,70 e R$ 3,75 já não prevalecem mais e sinalizamos isto semanas atrás, até as medianas do Boletim Focus convergiram para R$ 3,83, tendo aumento o prêmio de risco embutido no preço praticado.

Inconteste que também contribuiu e continua contribuindo a postura inerte do Banco Central do Brasil frente ao movimento a apreciação do preço do dólar ante o real, não rigorosamente simétrica com o comportamento externo do dólar ante a cesta de moedas e as moedas latinas, já que tem se mantido absolutamente discreto quando os números do mercado de câmbio sugerem que tivesse sido mais intenso e pontual na oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra.

Os bancos detêm posições vendidas superiores a US$ 13,0 Bi neste dezembro em que as demandas são grandiosas e continuas, e o BC realizou leilões de linhas em montante absolutamente baixo, algo como somente metade da necessidade, o que sem duvida agrega pressão altista do preço.

Evidentemente não se deseja que o BC “administre a taxa cambial”, mas que cumpra o seu papel de prover o mercado de câmbio com a devida liquidez e de forma pontual e sem alardes de “intervenção”. Se os não o faz obriga os bancos a irem obter linhas nos seus correspondentes estrangeiros, provavelmente por prazos nem sempre adequados e custos mais elevados.

Hoje o BC está ofertando mais US$ 1,0 Bi de linhas de financiamento, deveria fazê-lo de US$ 6,0 Bi para atender a demanda, e assim agindo acaba por proporcionar sustentabilidade a alta do preço do dólar.