Por Douglas Coelho da Radar Investimentos

A dinâmica do mercado futuro do milho tem chamado a atenção dos participantes nos últimos dias. Isto porque em pleno pico da colheita da safrinha, as cotações no físico têm patinado ao redor de R$37,00-38,00/sc, CIF, com 30 dias de prazo.

Há determinada cautela dos participantes principalmente em relação à situação das lavouras nos Estados Unidos. Nesta segunda-feira, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, em inglês) apontou que apenas 58% das lavouras do cereal norte-americano estava em condições boas/excelentes, enquanto esta parcela no mesmo período do ano anterior era de 72%. Naquele país, o plantio foi tardio e em áreas menores do que previamente esperado, o que exige ainda mais do clima neste período. Também chamado de “weather market” no mercado financeiro.

Além das condições de lavouras, as atenções também estão voltadas para o relatório do dia 12/8 do USDA, que trará mais detalhes sobre a área semeada.

No Brasil, temos observado um interesse pequeno por parte dos produtores na fixação de preços diante da atual condição e patamares. Mesmo com a colheita já finalizada em 76,1% em Mato Grosso (dados do IMEA em 15/7) e 58% colhido no Paraná (dados do DERAL em 15/7), a pressão típica da colheita trazendo mais cereal disponível ao mercado ainda não surtiu efeito relevante.

Olhando em um passado recente, este comportamento é parecido com 2017, quando a média mensal de preços do milho em Campinas-SP em julho ficou próxima de junho, com uma queda ligeira de 1,25%. No entanto, bem diferente de 2016 e 2018, quando a média das cotações do milho em julho foi 10,33% e 8,26% menores do que em junho.

Além da colheita, hoje temos um fator externo que pode apimentar essa dinâmica, que é a evolução da reforma da Previdência, que de certa maneira foi precificada pelo mercado e trouxe a relação dólar/real para um dos patamares “mais comportados” do ano.

Todos estes pontos formam uma combinação interessante de fundamentos para o milho. Na medida em que a colheita no Brasil caminhar para a reta final, o foco nos EUA deve ficar ainda mais evidente. Como a volatilidade do cereal no mercado futuro é historicamente mais que o dobro comparado ao boi gordo, as janelas de oportunidades para proteções são rápidas e merecem atenção dos participantes que buscam ferramentas de proteção de preços para suas atividades.

***Texto originalmente publicado no informativo pecuário semanal “Boi & Companhia” nesta última quinta-feira (18/7) da Scot Consultoria***