Pequim, 16/10/2019 – Embora a China tenha se comprometido a adquirir mais produtos agrícolas dos Estados Unidos, ainda há dúvidas sobre o volume exato, sobre quando serão as compras e sobre as concessões que os EUA terão de fazer. Pequim tenta fazer os norte-americanos desistirem dos planos de impor tarifas de 15% sobre US$ 156 bilhões de bens de consumo a partir de 15 de dezembro, e pode usar as compras agrícolas como parte da negociação.

Negociadores chineses continuam afirmando que compras devem ser baseadas em demanda real e feitas a preços de mercado, de acordo com pessoas a par do assunto. Os cerca de US$ 50 bilhões em produtos agrícolas celebrados pelo presidente norte-americano Donald Trump estão muito além do que a China gasta historicamente e devem exigir que Pequim recorra a companhias estatais.

“A incerteza continua”, disse o diretor da consultoria internacional Hills & Company e ex-presidente do Conselho de Negócios EUA-China, John Frisbie. As exportações norte-americanas de soja, sorgo, carne suína e outros produtos agrícolas para a China chegaram ao pico em 2013, em cerca de US$ 29 bilhões, caindo para US$ 24 bilhões em 2017, antes do início da guerra comercial. Essas exportações recuaram para US$ 9,2 bilhões nos últimos 12 meses, de acordo com dados do Departamento de Comércio dos EUA. Trump afirmou na sexta-feira que a China chegará aos US$ 50 bilhões em compras em “menos de dois anos”, mas o lado chinês não confirmou essas projeções, e na terça-feira o senador norte-americano Chuck Grassley, presidente da Comissão de Finanças do Senado, disse que queria mais detalhes sobre o acordo.

O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Geng Shuang, disse a repórteres na terça-feira que Pequim aumentaria compras agrícolas dos EUA, mas não deu detalhes. Ele disse que a compreensão da China sobre as conversas mais recentes entre os países era “consistente” com o que foi dito pelos EUA. Oficiais norte-americanos e chineses devem continuar as discussões por telefone nas próximas duas semanas, buscando um acordo parcial que possa ser assinado por Trump e pelo presidente chinês, Xi Jinping, possivelmente no mês que vem.

Segundo analistas, a China poderia anexar condições que permitiriam ao país comprar menos do que o esperado pelos EUA. Isso poderia ser feito por meio da ampliação do prazo para as aquisições.

Para aumentar substancialmente as compras de carne suína e bovina dos EUA, a China precisaria retirar as restrições à biotecnologia nesses produtos. O representante de Comércio norte-americano, Robert Lighthizer, disse que esses assuntos são “pelo menos tão importantes quanto as compras em si”.

Negociadores chineses liderados pelo vice-premiê Liu He argumentam que os EUA, ao pedirem que empresas da China comprem mais do que precisam, estão fazendo com que Pequim pressione suas estatais, como a Cofco.

A China já aumentou as compras de produtos agrícolas norte-americanos nas últimas semanas e está disposta a aumentar compras de soja para 30 milhões de toneladas este ano, de acordo com fontes. O país asiático comprou 20 milhões de toneladas de soja dos EUA este ano, de acordo com o Ministério de Relações Exteriores da China, número consistente com o levantamento norte-americano.

Para que a meta de compras chinesas seja alcançada em até dois anos, exportações dos EUA provavelmente teriam de ser redirecionadas de regiões como Europa e Japão. O número dado por Trump representa cerca de um terço das exportações agrícolas norte-americanas anuais, de aproximadamente US$ 150 bilhões.

Um empecilho no curto prazo para as compras da China pode ser o plano de Washington de aumentar as tarifas em dezembro. Os EUA já cancelaram um aumento de tarifa sobre US$ 250 bilhões em bens chineses que entraria em vigor nesta semana, mas Lighthizer disse que o presidente não se decidiu sobre as tarifas de dezembro. Fonte: Dow Jones Newswires