Por Leandro Bovo da Radar Investimentos

A alta do dólar foi a grande responsável pela enorme alta de preços que tivemos em praticamente todas as commodities agropecuárias em 2020. A moeda brasileira foi de longe a que mais se desvalorizou entre todos os emergentes com o dólar começando o ano cotado a  R$ 4,00 e em sua máxima chegou a se aproximar dos R$ 6,00. Essa desvalorização cambial acabou tornando nossos produtos mais baratos no mercado internacional, o que levou a aumento de exportações e preços melhores aos produtores.

Nas últimas semanas, principalmente após a confirmação da eleição de Biden nos EUA, o dólar resolveu devolver um pouco de toda a alta acumulada ao longo de 2020 e saiu do patamar de R$ 5,30 para os atuais R$ 5,10 e esse movimento foi o gatilho para uma forte pressão vendedora nos mercados físicos de boi e milho. O boi saiu de ao redor de R$ 290/@ para os atuais R$ 265,00 e o milho veio de R$ 80,00 para R$ 74,00.

O movimento do físico foi mais calmo e ordenado, porém o movimento dos mercados futuros foi quase que caótico, sobretudo no milho. O contrato de vencimento janeiro 21 do milho saiu do patamar de R$ 80,00/sc para a mínima de R$ 67,50/sc e depois disso, teve 3 limites de alta seguidos até sua máxima a R$ 78,74, retomando para o patamar de R$ 75,00/sc no meio-dia do pregão de 10/12. Já o boi não teve tanta volatilidade assim, e veio em queda direta praticamente sem paradas, com jan21 saindo de R$ 290/@ para os atuais R$ 250/@ e o mai21 saindo de R$ 275,00 para a mínima de R$ 240,00/@. No caso do boi a diminuição do volume exportado para a China e o consequente maior direcionamento de carne para o mercado interno, aliado á concentração de saída dos animais confinados foram os responsáveis por dar vazão à pressão baixista das indústrias.

É praticamente impossível estimar o rumo das commodities brasileiras para 2021 sem levar em consideração a trajetória do câmbio e nesse aspecto as dificuldades são as maiores possíveis. Tem análise para todos os gostos, desde apostas que o cambio possa voltar para R$ 4,20 até outros que acham que o patamar dos R$ 5,00 não será rompido e o dólar deve voltar para os R$ 5,50. Isso tudo a depender de como o governo tratará a delicada situação fiscal brasileira e do ritmo das reformas prometidas para 2021. Ou seja, é difícil um ambiente mais imprevisível que esse.

Sem poder ter a mínima clareza nos rumos do dólar para 2021, resta nos ater á análise do lado da oferta dessas commodities e nesse aspecto as incertezas são um pouco menores. Tanto no boi como no milho o ambiente será de baixa oferta disponível, o que por si só gera uma dificuldade adicional para se impor fortes quedas nos preços. No caso do boi, o alto custo da reposição e o ciclo pecuário em alta deve levar o pecuarista a resistir muito em vender seus animais abaixo dos R$ 250,00/@ em São Paulo. Já no caso do milho o baixo estoque de passagem e a safra verão menor do que o esperado dificultarão movimentos sustentados de baixa de preços até a entrada da safrinha.

A briga promete ser bastante ferrenha em 2021, mas com certeza o cambio será o fiel da balança que determinará o vencedor. Ou seja, para o ano que vem, preste ainda mais atenção no comportamento da moeda americana.

***Texto originalmente publicado no informativo pecuário semanal “Boi & Companhia” nesta última quinta-feira (11/dez) da Scot Consultoria***