Por Leandro Bovo da Radar Investimentos

Com a temporada chuvosa já praticamente encerrada no centro sul do Brasil e com o acumulado muito abaixo da média histórica, parece que a safra finalmente resolveu dar as caras em São Paulo. As escalas de abate tiveram uma sensível melhora e caminham para seu melhor patamar em mais de um ano.

As quedas de preço, no entanto, onde ocorreram, não foram tão significativas e evidenciam que aparentemente a preocupação maior da indústria é garantir o suprimento do que derrubar preços. Em São Paulo O indicador esalq a vista recuou da máxima de R$ 320,00 em 14/4 para os atuais R$ 312,10, ou seja, uma queda de 2,45% da máxima histórica, o que é muito pouco pelo tamanho do movimento de alta precedente.

Esse aumento de oferta ajudado pela queda do dólar que veio para a mínima dos últimos 2 meses trouxe quedas para o mercado futuro, com maio recuando para R$ 305,00/@ e outubro para R$330,00/@. Esse enorme diferencial entre safra e entressafra, em linha com os maiores da história, é um dos poucos alentos que o confinador tem atualmente já que os custos com alimentação e boi magro seguem tirando o sono dos produtores. Acompanhe no quadro abaixo o histórico desse diferencial dado pelos contratos futuros de maio e outubro em cada ano no dia 30/4 e pela diferença real entre o indicador Esalq à vista do fim de maio e do fim de outubro de cada ano.


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O padrão histórico nos mostra que em anos em que o confinamento não é incentivado pelo mercado futuro (diferencial maio x out baixo em 30/04) o diferencial efetivo acaba sendo maior. Já em anos em que o confinamento é incentivado pelo mercado futuro (diferencial maio x out alto em 30/04) o diferencial efetivo acaba sendo mais baixo. É óbvio que essa é uma análise muito simplista e o impacto real depende de muitos outros fatores como taxa de juros, custo de comida e custo do boi magro, porém o histórico dos últimos 10 anos mostra que apenas em 2018 o diferencial de 30/04 foi parecido com os que efetivamente ocorreu no fim de maio e outubro de cada ano.

Em 2021 o confinador tem o direito de reclamar de tudo, comida, boi magro, custo do crédito ou qualquer outro problema, mas o mercado futuro até o momento tem feito bem seu papel de incentivar a atividade  com um ágio recorde safra x entressafra. Se isso vai se traduzir em aumento de oferta, é muito cedo para dizer, mas já é uma luz no fim do túnel.

***Texto originalmente publicado no informativo pecuário semanal “Boi & Companhia” nesta última quinta-feira (29/abr) da Scot Consultoria***