Por Cícero Cotrim e Thaís Barcellos

São Paulo, 22/11/2019 – O movimento das carnes no Índice de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) de novembro, com alta de 3,08% após os 0,59% de outubro, confirmou a luz de alerta nas perspectivas do mercado financeiro para inflação nos meses finais de 2019. A mediana da pesquisa relâmpago do Projeções Broadcast com 29 instituições após o IPCA-15 mostra expectativa de alta de 0,42% para o IPCA de novembro – o que seria a maior taxa desde 2015 – e de 3,48% para o indicador ao final do ano, acima da pesquisa Focus (3,33%).

Na margem do mês, o intervalo vai de 0,19% a 0,60%. No acumulado de 12 meses até novembro, a mediana indica variação de 3,19%, a partir de projeções que vão de 2,95% a 3,37%. Para a taxa de 2019, o piso das expectativas é de 3,15% e o teto, de 3,87%. Já para 2020, a mediana indica variação de 3,60%, com intervalo de 3,30% a 4,20%.

Economistas consultados pelo serviço especializado da Agência Estado avaliam que, a partir do final do ano, novas pressões inflacionárias se tornaram visíveis, mas, por ora, ainda não alteraram as previsões para o ciclo de corte de juros promovido pelo Banco Central. Com a média dos núcleos do IPCA-15 ainda rodando a 2,94%, segundo os cálculos da Rosenberg Associados, a inflação permanece em níveis confortáveis para a política monetária.

O IPCA-15 teve alta de 0,14% em novembro, acima do resultado de 0,09% do mês anterior, mas inferior à mediana de 0,16% da pesquisa do Projeções Broadcast. O intervalo era de 0,09% a 0,31%. O resultado do indicador também foi o menor para o mês desde 1998 (-0,11%).

Depois da divulgação, o Itaú Unibanco elevou as projeções de novembro (0,44% para 0,47%), dezembro (0,30% para 0,43%) e de 2019 (3,30% para 3,53%), citando o choque de carnes, mas ponderando que o cenário de inflação segue benigno, com os núcleos comportados.

Na SulAmérica Investimentos, a estimativa para o IPCA de novembro passou de 0,37% para 0,60% após o IPCA-15, principalmente pela maior pressão na cadeia de proteínas, diz o economista-chefe Newton Camargo Rosa. Ele acrescenta ainda que passagem aérea (2,10% para 4,44%) superou a expectativa no IPCA-15, o que também majora a perspectiva para índice fechado de novembro.

Por isso, o economista também alterou a projeção para a inflação oficial deste ano, de 3,37% para 3,51%. Apesar disso, Rosa avalia que esse aumento de proteínas não deve afetar em um primeiro momento os próximos passos de política monetária, porque o Banco Central não deve combater choques primários.

O economista estima que o ciclo de corte de juros deve se encerrar em fevereiro, com a Selic em 4,25%. “Se esse choque começar a afetar as expectativas para 2020, aí poderia ser um indício de efeito secundário.”

Cautela

Citando as falas do presidente do BC, Roberto Campos Neto, o estrategista da Tullet Prebon, Vinicius Alves, avalia que cresceu a probabilidade do ciclo de corte de juros se encerrar no nível de 4,25%, ainda que sua aposta ainda seja de encerramento em 4,00%.

“A ata já estava citando a questão da cautela e Campos Neto reforça isso. O ‘call’ mais forte hoje é só um ajuste fino em fevereiro, levando a Selic para 4,25%. Há espaço para ir a 4,0% pelo cenário de inflação, mas o BC não parece muito disposto.”

Alves afirma que o aumento de carnes não deve mudar a perspectiva para a política monetária, porque a princípio é somente um choque primário, mas diz que é preciso ficar alerta aos bens comercializáveis, que subiram de 0,32% no IPCA-15 de outubro para 0,45% em novembro, porque é o grupo com maior influência do câmbio.

“É algo muito incipiente ainda, mas é algo a se monitorar. Porque a fala do Campos Neto foi muito focada nesse ponto”, explica. Em audiência no Senado nesta semana, o presidente do BC disse que é importante ver “como o câmbio alimenta o canal de inflação” e que, se ocorrer elevação das expectativas à frente, o BC vai agir por política monetária.

Após o IPCA-15, a Tullet alterou a projeção para o IPCA de novembro, de 0,40% para 0,44%, e de 2019, de 3,30% para 3,45%, basicamente por causa da pressão de carnes. Além desse choque se intensificar até o fim do mês, Alves cita que a energia elétrica e os jogos lotéricos devem ficar mais caros.

Na Pezco, por outro lado, o economista Helcio Takeda reduziu as expectativas para a inflação de novembro, de 0,32% para 0,26%, após a divulgação do IPCA-15 do mês. A revisão foi motivada pelo comportamento de itens dos alimentos in natura como a cebola (-18,60%), tomate (-8,0%) e batata inglesa (-7,92%) na prévia. Segundo Takeda, os itens devem manter a tendência de queda e ajudar a compensar o acréscimo do nível de preços das carnes.

“Não vemos nenhuma pressão que altere nossa avaliação de comportamento da inflação no médio prazo”, diz Takeda. Ele espera que o IPCA feche 2019 a 3,22% e chegue a 3,46% em 2020. Para a Selic, a Pezco já projetava fim do ciclo em dezembro, com a taxa a 4,50%.

A LCA Consultores também revisou suas projeções para o IPCA de novembro para baixo, de 0,40% para 0,39%. Por meio de nota, a consultoria ressaltou as altas esperadas nos grupos de Alimentação (0,32%), Habitação (0,85%) e Despesas Pessoais (1,09%) devem ser parcialmente compensadas por uma queda dos artigos de residência (-0,07%) e de Saúde e Cuidados Pessoais (-0,09%), na esteira da Black Friday.

A consultoria manteve a expectativa de 3,50% para o IPCA de 2019 e de 3,40% em 2020. “A modificação de novembro não foi suficiente para alterar a alta que projetamos para 2019”, afirma a casa, em nota.