Como abordávamos na semana passada nesse espaço, os desdobramentos da delação premiada dos executivos da JBS afetaram a precificação de praticamente todos os ativos do mercado financeiro brasileiro. No setor pecuário que se encontra exatamente no meio desse furacão o impacto foi ainda maior e os efeitos provavelmente ainda serão sentidos por algumas semanas até que o setor possa se reorganizar acompanhando o desenrolar dos fatos.

Atualmente o fluxo de oferta redirecionado para outros frigoríficos tem sido brutal e logicamente a pressão sobre as cotações cresceu na mesma medida.  Não bastasse isso, os reflexos no mercado de carne também tem sido grandes e geraram alterações no mix de produção entre carne com osso e desossada de cada indústria para se adequar á nova realidade do mercado. Todo esse tumulto alterou as referências de preço que ainda não foram reestabelecidas e provavelmente não serão no curtíssimo prazo.

O mercado de boi gordo que já vinha numa tendência baixista obviamente sentiu o baque e reagiu com quedas de preços no físico e em toda a curva futura. A princípio os preços do mercado futuro se estabilizaram nas mínimas, com junho ao redor de R$ 129,00/@, julho a R$ 130/@ e outubro a R$ 131,50/@. Nesses patamares mesmo considerando a forte queda nos preços do milho, pouquíssimas operações de engorda na entressafra conseguirão ser rentáveis e com isso o desestimulo ao confinamento é evidente. Por esse motivo, a tendência é que uma vez passada a tempestade os preços voltem a se estabilizar em patamares pelo menos mais alinhados com o custo de produção e portanto acima dos atuais.

Ocorre que ninguém sabe quais serão os desdobramentos para a JBS de todo esse imbróglio em que ela se envolveu. Acordos de leniência, vencimento de dívidas de curto prazo, dificuldades na compra de matéria prima e na venda de carne terão um impacto muito grande na performance operacional e financeira da companhia no curto prazo. Diante desse futuro ainda sem muita visibilidade, muitos produtores estão recorrendo á compra de opções de venda na BMF como um seguro contra catástrofes. Por mais que a tendência de curto prazo ainda seja baixista e a situação da pecuária ainda muito incomoda, efetuar vendas no mercado futuro para travar preços pode não ser a alternativa mais viável nessa situação, já que a volatilidade está alta e o fluxo de caixa requerido para ajustes pode ser grande. O ideal é separar um valor entre R$ 1,00 e R$ 1,50/@ e comprar opções de venda na BVMF para poder torcer pelo melhor, mas estando preparado para o pior.


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