No começo do ano quando as indústrias anunciaram a decisão de não mais fazer o chamado boi a termo, muitos pecuaristas ficaram preocupados com a dificuldade adicional que isso representaria para a gestão do risco de preços de suas operações.
Realmente essa era uma ferramenta muito fácil de travar preços, escalas e principalmente o diferencial de base das operações fora de São Paulo, porém quem optou por usar diretamente a BMF nessa gestão de riscos acabou tendo até agora resultados mais satisfatórios do que se tivesse usado o “boi a termo”. Isso em um ambiente muito mais volátil e incerto do que qualquer outro ano de que se tenha lembrança. Vamos aos fatos:
Conforme já abordamos nesse espaço, a grande alta nas exportações em agosto e em setembro até agora, aliadas à falta de previsibilidade das escalas sem o boi a termo, ocasionou uma grande disputa pelo chamado “boi europa” ampliando os prêmios e beneficiando o confinador que tinha essa mercadoria disponível. A falta de oferta gerada pelo desincentivo ao primeiro turno do confinamento agravou ainda mais essa situação, colocando os confinadores que estavam negociando no mercado spot numa posição bastante cômoda frente as grandes indústrias disputando seu produto. Além disso, a flexibilidade de não estar amarrado a um contrato que te obrigue a entregar seus animais a uma empresa no meio desse tiroteio político econômico também é um fator a ser considerado.
No entanto, o principal fator que favoreceu as operações na Bolsa esse ano acabou não sendo essa relativa escassez de mercadoria, mas sim o grande estreitamento dos diferenciais de base, que em algumas ocasiões chegou a ficar até invertido, como aconteceu nessa semana com algumas praças de Minas Gerais valendo mais do que em São Paulo por exemplo. Veja abaixo:
Repare que praticamente todas as praças pecuárias estão com diferenciais de preço menores hoje do que há 30 dias ou um ano, o que trouxe um ganho adicional á operações de fora do estado que usaram a BMF como ferramenta de hedge, na medida que o diferencial de base considerado na hora da decisão da venda no mercado futuro com certeza deve ter sido acima dos níveis efetivamente realizados no abate dos animais.
É claro que os resultados obtidos nesse ano não asseguram que a realidade sempre será essa e também é fato que o pecuarista poderia ter travado seus animais com o diferencial a fixar com as indústrias, também aproveitando o “beneficio” do estreitamento dos diferencais de base, porém o fato é que o pecuarista acabou descobrindo que existem outras alternativas disponíveis para a gestão do seu risco de preços. Cada ferramenta possui seus benefícios e dificuldades e é importante ter todas elas na prateleira para poder definir qual é a mais adequada á cada realidade, mas com certeza muitos usuários do boi a termo migrarão para as operações na BMF depois dos bons resultados obtidos nesse ano.