Finalmente depois de muitas semanas de estabilidade no mercado, a volatilidade voltou a dar as caras no mercado futuro de boi. A má notícia para os produtores foi que essa volatilidade foi causada pela queda dos preços de toda a curva futura, que trouxe todos os vencimentos para a mínima do ano. O contrato de mai/18 fez mínima em R$141,20/@ e out/18 fez sua mínima a R$146,50/@.
O mercado físico também esteve mais pressionado na semana, mas a movimentação efetiva de baixa foi pequena e provavelmente não foi apenas isso que motivou a forte pressão vendedora no futuro, mas uma conjunção de notícias ruins como o embargo das exportações da BRF e os dados sobre o aumento dos abates no primeiro bimestre do ano, fator esse que merece ser mais bem analisado.
Com o grande movimento de reabertura de plantas frigorificas ocorrido em 2017, já era esperado um forte aumento dos abates para 2018, porém os dados preliminares divulgados pelo SIF surpreenderam até mesmo quem esperava o número mais alto. Os dados ainda não estão finalizados e podem sofrer revisões nas próximas semanas, mas até agora os abates inspecionados pelo SIF tiveram alta de 49,8% em janeiro e 43% em fevereiro de 2018 frente a 2017 sendo de longe os abates mais altos para esses meses da série histórica e perdendo apenas para dezembro de 2017. Confira no gráfico abaixo:
Tamanho aumento gerou uma enorme preocupação com a capacidade do mercado interno de absorver esse excesso de oferta principalmente num momento em que o diferencial de preços entre a carne bovina e a suína e de frango só tem aumentado. Por mais que as exportações estejam em um ritmo bastante positivo, elas consomem historicamente apenas ao redor de 25% de nossa produção, logo a maior parte desse aumento terá que ser escoada no mercado interno.
O fato desse aumento de produção não ter vindo acompanhado de preços mais altos no boi (na verdade no ano até agora temos uma pequena queda) evidencia que há oferta abundante de matéria prima disponível, porém a atual capacidade de abate da indústria tem jogado a favor da sustentação dos preços, impedindo que uma maior pressão baixista se imponha, mesmo à custa da diminuição das margens do setor. Caso haja alguma reorganização dos abates no Brasil com fechamento de plantas ou diminuição dos abates diários, a pressão baixista no boi gordo pode ganhar corpo e é esse o medo refletido na queda do mercado futuro até o momento.
Nessa semana houve um grande aumento na procura por seguros de preço mínimo, o que acabou aumentando os custos para sua aquisição que juntamente com a queda de preços no mercado futuro muitas vezes inviabilizou as operações. Nesse caso vale a velha máxima de que o seguro deve ser feito quando não se precisa dele, pois quando todos querem fazer o preço sobe. De toda forma ainda é possível comprar opções de venda que remunerem minimamente o custo de produção, vale a pena olhar com mais atenção para essa alternativa, sobretudo para o final da safra.
***Texto originalmente publicado no informativo semanal “Boi & Companhia” da Scot Consultoria.***