São Paulo, 02/10/2018 – A declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que ontem (1) apontou dificuldades nas relações comerciais com o Brasil, serve de alerta para possíveis entraves entre os países, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “Foi algo pequeno, mas pode ser a sinalização de um risco. Já temos experiências anteriores de casos envolvendo Trump, que começaram com declarações simples ou até tuítes e que viraram coisas mais sérias, como a guerra comercial com a China”, disse ao Broadcast Agro a superintendente de Relações Internacionais da entidade, Lígia Dutra.

Em pronunciamento por ocasião do anúncio do novo acordo comercial EUA-México-Canadá, ao responder sobre o que considera relações comerciais injustas para os norte-americanos, Trump disse que empresas americanas se queixam do Brasil como “um dos mais duros do mundo”. “E nós não os chamamos e dizemos ‘vocês estão tratando nossas empresas injustamente, tratando nosso país injustamente”, acrescentou o presidente. Antes de falar sobre o Brasil, ele se queixou da relação com a Índia.

A executiva da CNA explica que as ponderações de Trump são verídicas pois, de fato, o Brasil é considerado um dos países mais fechados do mundo, mas os gargalos do País não se aplicam particularmente às empresas americanas, eles afetam todas as corporações que atuam no País, inclusive as brasileiras. “Estrutura tributária, dificuldade para iniciar um negócio, autorizações e acessos para comercialização são muito questionados pelas empresas”, destaca. “Precisamos melhorar, não por causa das declarações de Trump, mas para facilitar o cenário para as nossas próprias companhias”, sugere.

Lígia comenta que, no ranking do Banco Mundial sobre os países com maior facilidade para fazer negócios, o Brasil está na 125ª posição, enquanto os norte-americanos estão na 6ª, o que também justificaria a manifestação de Trump quanto ao ambiente corporativo brasileiro. Os Estados Unidos são o segundo principal parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. “Em 2017, os EUA representaram US$ 51 bilhões da nossa balança comercial e, só do agronegócio, foram US$ 8 bilhões”, cita a superintendente.

Considerando que são sólidas as relações entre norte-americanos e brasileiros, Lígia acredita que a fala de Trump não representa “grande perigo” ao País. Ainda assim, ela alerta que o Brasil precisa melhorar na negociação de acordos bilaterais para ampliar o acesso aos mercados. “Isso é fundamental para o agronegócio”, enfatiza. Para a executiva, esta é uma prioridade que precisa estar na agenda do próximo presidente.

Carne bovina – Na agropecuária, uma das negociações brasileiras que está em andamento com os norte-americanos é a reabertura para exportação de carne bovina in natura. Lígia avalia que a declaração de Trump não prejudica esta questão. Para ela, o que está em discussão são requisitos técnicos e sanitários. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) não quis comentar. (Nayara Figueiredo, nayara.figueiredo@estadao.com)