Por Leandro Bovo da Radar Investimentos

Já estamos caminhando para o final de agosto e até agora a entressafra ainda não tinha dado as caras na sua forma mais tradicional na maior parte das regiões produtoras do Brasil. Em São Paulo, depois da derrocada de julho, os preços vieram se recuperando e trabalhando em ambiente mais firme, porém num ritmo e numa velocidade muito menores do que a maioria dos pecuaristas gostaria.

 As expectativas positivas do mercado futuro estiveram sempre alicerçadas em dois gatilhos: a liberação de mais plantas para exportação para a China e uma maior restrição de oferta no segundo semestre. Diante do entrave nas negociações com a China até o momento, essa questão já ficou em segundo plano, sobrando apenas a restrição da oferta como gatilho para a alta de preços.

 Nos últimos dias esse gatilho começou a ser mais evidente, ainda que de maneira diferente nas diversas praças pecuárias, mas em geral a dificuldade de compra e os preços em alta começaram a ser mais relevantes nas negociações atuais. O mercado futuro reagiu bem a esse cenário e depois do contrato de outubro ter feito sua mínima recente a R$ 157,80 no pregão de 20/08, ele voltou a operar em alta cotado atualmente a R$ 160,50/@. Esse valor ainda é longe da máxima de R$ 165,75/@ atingida em 18/6 mas já é um alento para quem estava acreditando que a tendência de baixa se consolidaria no mercado na entressafra. Acompanhe no gráfico abaixo:


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Muitos participantes do mercado não acreditam numa recuperação mais forte dos preços por conta do grande volume de animais a termo negociados sobretudo com as indústrias maiores.

A conta, no entanto, não é tão simples assim. Apesar de os contratos a termo darem uma grande previsibilidade de fornecimento e conforto nas escalas de quem tem essa modalidade, não são todos os frigoríficos que têm contratos desse tipo. Da mesma forma que as indústrias com boi a termo não precisarão comprar muitos bois na entressafra, muitos pecuaristas (provavelmente os maiores) também não terão que ofertar bois no mercado spot, teoricamente sobrando menos bois para atender a demanda das demais indústrias.

O mercado a termo não revoga a lei da oferta x demanda, logo, caso a demanda no mercado interno + exportação seja maior do que a oferta de animais terminados negociados a termo + spot, os preços subirão e se for o contrário os preços cairão. Já houve anos do mercado subir com a indústria com muito termo e já houve anos do mercado cair com a indústria sem nada de termo. Se contratos a termo fosse sinônimo de queda de preços, commodities como soja, café, algodão e milho nunca subiriam… No curto prazo a equação da oferta x demanda está favorável à alta dos preços, vamos ver até onde ela se sustentará.

***Texto originalmente publicado no informativo pecuário semanal “Boi & Companhia” nesta última quinta-feira (22/8) da Scot Consultoria***