Por Alda do Amaral Rocha, especial para a Agência Estado

São Paulo, 14/04/2020 – A crise do novo coronavírus pegou a pecuária bovina brasileira “em uma situação relativamente boa”, diz o sócio-diretor da Radar Investimentos, Leandro Bovo. Durante o webinar Pecuária: Impacto do Covid-19 no mercado de carnes, ele observou que a crise chegou num momento de baixa no ciclo da pecuária. “Se pegasse em outra fase do ciclo pecuário, o setor iria sofrer mais”, disse. Além disso, afirmou, apesar de a pandemia afetar a demanda de forma global, a alta do dólar em relação ao real deixou a carne brasileira num “patamar baixo” de preços no mercado internacional. Segundo ele, nenhum país hoje tem condições de produzir “carne de qualidade” com a mesma competitividade que o Brasil.

No Brasil, a arroba do boi equivale hoje a US$ 37, afirmou. Na Argentina, está em US$ 35, mas há limites para exportação. Já na Austrália e nos EUA, dois concorrentes do País, a arroba do boi está ao redor de US$ 58 e US$ 58,50, respectivamente. “Quem quiser carne tem de comprar do Brasil”, disse.

Embora a Europa, um importante comprador de cortes nobres do Brasil, esteja “parada”, Bovo afirmou que China e Oriente Médio seguem demandando. “No geral, nosso balanço na exportação não foi muito afetado, a situação é boa diante do atual cenário”.

O diretor de relações institucionais da Minerva João Sampaio acrescentou, durante o webinar, que a “a demanda de China é sólida e que o Brasil tem a melhor condição” para atender esse mercado. Além de o pais asiático necessitar importar em razão da peste suína africana, o crescimento da renda na China também sustenta o avanço da demanda, avaliou. Ele lembrou que o maior concorrente para a carne bovina brasileira na região é a Austrália, que enfrentou problemas graves na produção em decorrência de incêndios. “Existe demanda consistente na Ásia, no Oriente Médio”, disse.

O pecuarista Leonardo Bacco, da GPB/DATAGRO, concorda que a “crise veio numa hora menos traumática”. Ele afirmou que desde 2018 o bezerro para reposição tem tido preços recordes, o que desestimulou o abate de vacas e reduziu a oferta. Dessa forma, o enxugamento da demanda por causa do novo coronavírus ocorre num momento em que a oferta de boi também está enxuta, disse. Ele espera pouca variação nos preços atuais da arroba.

Para o pecuarista, a entrada de dinheiro na economia por meio dos auxílios emergenciais “atenua o impacto momentâneo” da Covid-19 na demanda. Bacco acredita que haverá maior dificuldade no mercado de carne premium, que é consumido em churrascos, bares e hotéis.

Leandro Bovo mostrou otimismo em relação ao desempenho do setor após o fim da crise, mas disse que “a situação está longe de ter sido resolvida”. A crise “é gigante sob todos os aspectos, a demanda será afetada com o fechamento de food service e o consumo em casa não compensa”.

Afora isso, observou, há riscos difíceis de mensurar, como uma eventual necessidade de fechar unidades, como ocorreu em abatedouros dos EUA por causa de casos de funcionários infectados com o coronavírus.