SÃO PAULO (Reuters) – O rali de ativos de risco no mundo foi amplamente sentido no mercado de câmbio brasileiro nesta terça-feira, com o dólar fechando em firme queda ante o real e a moeda doméstica exibindo um dos melhores desempenhos globais na sessão.

O dólar à vista caiu 1,09%, a 5,3759 reais na venda. A moeda oscilou em baixa durante todo o pregão, descendo a 5,3725 reais na mínima intradiária (-1,16%). Na máxima, foi a 5,4296 reais, leve recuo de 0,10%.

A queda na sessão foi a maior desde o dia 17 deste mês.

Na B3, o dólar futuro cedia 1,23%, a 5,3740 reais, às 17h16.

As operações domésticas mostraram sintonia com o ambiente externo pró-risco, embalado por perspectivas de uma transição de governo mais suave nos Estados Unidos, que por tabela poderia facilitar o processo de distribuição de uma potencial vacina contra o coronavírus.

Veja gráfico intradiário da cotação do dólar ante o real e do índice do dólar no exterior:

A composição do governo de Joe Biden à frente dos EUA também tem gerado ventos favoráveis ao mercado, com investidores citando a possível nomeação da ex-chair do Federal Reserve Janet Yellen para o comando do Tesouro dos EUA.

O entendimento é que a dupla Yellen/Powell –Jerome Powell, atual chair do Fed– poderia promover uma coordenação sem precedentes entre as políticas monetária e fiscal a fim de garantir a recuperação econômica dos EUA da crise da Covid-19.

“Do ponto de vista de mercado, a chegada da vacina deixa os investidores mais tranquilos, porque foi a isso que o mercado reagiu mal ao longo do ano, e o noticiário sobre o governo dos EUA traz uma tranquilidade adicional”, disse Helena Veronese, economista-chefe na Azimut Brasil Wealth Management.

“A disponibilidade da vacina se trata de ‘quando’, não de ‘se’. Com vacinas principais já mostrando eficácia, temos maior confiança no crescimento global em 2021, especialmente no segundo trimestre e além”, disse o Goldman Sachs em nota.

O Morgan Stanley avalia que o sentimento de risco segue melhorando e que o real está entre suas moedas preferidas, além de peso mexicano e florim húngaro. A moeda brasileira é considerada por alguns bancos como uma das que mais deve se beneficiar com a chegada de uma vacina contra a Covid-19.

Um otimismo com o Brasil e o câmbio na esteira do clima favorável para emergentes, porém, esbarra nos problemas fiscais internos. Analistas do Bank of America passaram duas semanas conversando com investidores estrangeiros sobre o país. Mesmo reconhecendo a volta dos fluxos, eles parecem preferir ficar à margem por ora, à espera de notícias fiscais concretas.

“Alguns investidores estão relativamente construtivos no cenário fiscal (capacidade de manter o teto de gastos) e no crescimento para o próximo ano, mas a convicção permanece baixa”, disse o BofA em nota.

Nesse contexto, a moeda brasileira ainda é preterida em relação aos juros. Segundo o BofA, os relatos são de que o real pode até parecer atraente, mas ainda sujeito a volatilidade “muito alta” e sem tendência clara.