Por Douglas Coelho da Radar Investimentos

Com a virada do calendário muito da esperança e dos planos são renovados. Não deveria ser diferente, 2020 foi um ano pesado, com muita volatilidade e emoções fortes dentro e fora da porteira para o pecuarista e para o agricultor.

O título da leitura de hoje faz referência ao sentimento que temos para a oferta e a demanda no mercado físico do boi gordo.

Sendo direto ao ponto, pelo lado da oferta de animais terminados a nossa resposta seria, não. Isto porque a reposição atravessou 2020 firme como uma rocha, algumas regiões fortes de pecuária como em MS, GO e Triângulo Mineiro as chuvas foram incipientes e o pecuarista continua a “colocar mais esteiras em sua fábrica de bezerros”.

Os abates do terceiro trimestre do IBGE reforçam esta visão acima. A queda de 9,5% frente ao mesmo ao 3º trimestre de 2019 reflete uma disponibilidade restrita, principalmente de fêmeas, desde o início de 2020.

Pelo lado da demanda, temos um fato fora do comum em jan/21 em relação aos anos anteriores. A saída do auxílio emergencial em um período com o desemprego relativamente alto e quando as contas ficam mais apertadas com o pagamento de impostos pode colocar um freio no consumo imediato da população.

O sentimento é de cautela nos primeiros meses do ano, pois o quadro da covid-19 não foi resolvido e os estímulos à demanda de curto prazo serão finalizados.

Esta situação de oferta restrita e demanda menor pode deixar as “engrenagens do mercado físico” mais distantes uma da outra. Em outras palavras, a queda de braço entre o preço do comprador (indústria) e o preço do vendedor (pecuarista) pode ficar mais dura do que naturalmente foi em 2018 e 2019.

O ano de 2020 foi um período de grandes lições. Talvez tenham sido poucos pecuaristas, analistas, corretores e participantes do mercado que imaginaram um desfecho como este após o anúncio da pandemia.

Acreditamos que a maior lição foi contar com a imprevisibilidade independente do cenário, seja na tempestade ou na bonança. As informações de mercado confiáveis e ferramentas de proteção são meios de não deixar essa imprevisibilidade assustar você.

***Texto originalmente publicado no informativo pecuário semanal “Boi & Companhia” nesta última quarta-feira (23/dez) da Scot Consultoria***