Por Leandro Bovo da Radar Investimentos

O mercado de boi gordo indicou 2021 muito firme, com pouca oferta e preços em alta em todas as praças pecuárias do Brasil. Na verdade falar em pouca oferta é ser até um pouco otimista, porque a realidade em muitas regiões é de um verdadeiro apagão de ofertas, com frigoríficos tendo que agrupar abates da semana em poucos dias para otimizar o funcionamento das plantas.

Não bastasse isso, as vendas de carne foram muito positivas no fim do ano, deixando o atacado desabastecido e tendo que acelerar as compras para repor seus estoques e com isso puxando os preços da carne na primeira semana do ano. Essa conjunção de fatores foi o catalizador para a alta nos preços do boi gordo que em algumas regiões já igualaram as máximas atingidas em 2020.

A situação de oferta extremamente restrita deve perdurar ainda por um bom tempo no início desse ano, já que os efeitos do atraso das chuvas e a retenção de fêmeas não são reversíveis no curto prazo. Além disso, a diminuição sazonal da disponibilidade de animais confinados diminui ainda mais a margem de manobra da indústria para preencher eventuais buracos na escala. E aí entra o segundo fator da equação que é a demanda.

Da mesma forma que não há grandes dúvidas que a oferta será restrita, também não há grandes dúvidas que a demanda interna em janeiro será pior, já que além da retirada dos R$ 300 mensais do “corona Voucher”, janeiro é um mês de gastos adicionais, com impostos, matricula das crianças nas escolas e isso sem falar na ‘ressaca” dos consumidores que acabam gastando além da conta no fim do ano. No mercado externo, janeiro é historicamente um dos piores meses de exportações no ano, de modo que nessa frente também não devemos ter boas notícias.

Se não há muita dúvida sobre os rumos da oferta e da demanda isoladamente para janeiro, a dúvida fica na interação desses dois fatores, que será o que ditará o rumo dos preços. Quem terá maior força? A falta de oferta ou a demanda retraída? O folego das indústrias para suportar o custo extra da ociosidade das plantas determinará o vencedor dessa queda de braço.

***Texto originalmente publicado no informativo pecuário semanal “Boi & Companhia” nesta última quarta-feira (7/jan) da Scot Consultoria***