Por Douglas Coelho da Radar Investimentos
O começo de 2021 está diferente em relação aos anos anteriores. Isto porque estamos caminhando para meados de fevereiro com uma safra com “cara de entressafra” no mercado físico do boi gordo.
O atraso ou até a ausência das chuvas em algumas regiões do Brasil Central desde nov-dez/20 mudou a dinâmica da oferta de animais terminados nestes primeiros meses. Assim como 2020, a oferta (ou a falta dela) tem dado as cartas no mercado pecuário. Com pouca mudança brusca pelo lado dos fundamentos da demanda interna e externa dentro de 2-3 meses, provavelmente será a disponibilidade de animais que também ditará os preços adiante.
Deste modo, com margens mais apertadas, a indústria tenta se adequar. Nossos levantamentos têm apontado que os frigoríficos de SP estão abatendo menos cabeças por dia para tentar abater praticamente todos os dias da semana. O título do texto desta semana faz referência a isto, já que a maioria dos frigoríficos não pulará um ou dois dias de abate na próxima semana de carnaval, algo que era corriqueiro em 2018-2020. As operações seguirão normalmente, mas mantendo o abate enxuto.
Para “carimbar” este cenário, hoje o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados de abate de bovinos no 4º trimestre de 2020 com queda de 10,3% YoY e recuo de 5,8% em relação ao abate do 3º trimestre do mesmo ano. A produção de carcaças bovinas caiu 6,5% YoY e 4,6% vs o trimestre anterior. Contra fatos (ou dados) não há argumentos.
Por outro lado, o segmento que tem motivos para manter a “folia” é o varejo. Nesta manhã, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) também divulgou o índice nacional de vendas para 2020, que teve um salto de 9,36% em relação a 2019. O destaque foram as vendas em dezembro, que cresceram 18,1% MoM e 11,5% YoY.
O motivo para esse resultado foi a mudança do hábito durante o isolamento, dando força para o consumo à domicílio. Em nossa opinião, este quadro deve ser reforçado em meados de fev/21. A restrição de festas de carnaval deve impulsionar a demanda de alimentos e bebidas concentrada em pequenos grupos familiares, que somados fazem toda a diferença, como mencionado acima.
Passado esse período estamos mais cautelosos com a demanda interna, pois o desemprego continua alto e a nova rodada do auxílio deve abranger um número menor da população.
O contraponto à esta cautela da demanda seria uma possível aceleração da vacinação contra a covid-19 no Brasil. Mesmo com um número absoluto grande vacinado em relação aos demais países, o Brasil é um “país continental” e, em porcentagem da população vacinada/total, os dados deixam a desejar. A demanda interna ainda é o grosso do escoamento da produção, mais pessoas vacinadas implicaria em circulação de mais produtos, serviços e aumento da confiança na economia.
***Texto originalmente publicado no informativo pecuário semanal “Boi & Companhia” nesta última quinta-feira (11/fev) da Scot Consultoria***