Por Valor Econômico
Embora o IPCA de fevereiro acima do esperado aumente a possibilidade de o Banco Central dar início ao processo de normalização da política monetária de forma mais agressiva, a autarquia deve optar por uma elevação de 0,50 ponto percentual na reunião de semana que vem do Comitê de Política Monetária (Copom) e pode indicar que o ciclo pode ter uma aceleração do ritmo de aperto no futuro. A avaliação é do economista-chefe da Itaú Asset Management, Diogo Guillen, cujo cenário básico abarca dois momentos para a condução da política monetária neste ano.
Ao lembrar que, em janeiro, o Copom indicou a intenção de retirar o grau extraordinário dos estímulos, Guillen acredita que, em passos de 0,50 ponto percentual, o colegiado levará o juro básico a 4%, nível próximo do pré-pandemia.
Ao chegar a esse nível, o economista acredita que o comitê começará a tatear outras questões, mais ligadas à atividade econômica, com o hiato do produto, a taxa neutra e a conversão das expectativas de inflação para a meta. Assim, o cenário da Itaú Asset contempla a Selic em 4,75% no fim deste ano.
O maior receio para o BC, na avaliação do economista, está na chance de contaminação das expectativas de inflação de 2022 devido ao aumento das projeções para o IPCA no fim deste ano. A Itaú Asset, inclusive, acredita que a inflação superará o centro da meta neste ano, ao projetar o IPCA em 5,1%, e também em 2022, quando a inflação terminará dezembro em 3,7%, nas contas da gestora.
“De um lado, existe a contaminação das expectativas por meio da inércia inflacionária e, do outro, existe o hiato do produto ainda bastante aberto e cujo cálculo se mostra ainda mais difícil agora.”
Guillen projeta um crescimento de 3,2% para este ano, em um cenário que já incorpora a piora recente da evolução da pandemia. O economista alerta para o grau de incerteza nos números, mas ressalta que o cenário que tem se desenhado é o de um segundo trimestre também com PIB negativo. “O cenário de atividade é desafiador e o nível de incerteza também contribui para investimentos não serem o principal driver da retomada do crescimento”, afirma o profissional.
Assim, ao avaliar o comportamento da inflação, Guillen destaca três pontos de atenção que ajudam a explicar a dinâmica atual dos preços. O cenário externo tem apontado para um crescimento mais forte do que o esperado da economia dos Estados Unidos, além de indicar pressão de custos no Brasil devido à alta dos preços de commodities e bens industriais, como mostram os IGPs, que têm rodado a níveis “muito altos”.
O economista da Itaú Asset dá ênfase, ainda, aos serviços, que ainda estão bem comportados, mas ressalta que, nos países cujo processo de reabertura das economias está mais adiantado, esses preços têm tido um repique. E, por último, Guillen aponta para o retorno do auxílio emergencial, ao lembrar que o benefício teve impacto de pressão sobre a inflação no ano passado.