Por Douglas Coelho da Radar Investimentos

Não é de hoje, mas os últimos dados trouxeram uma visão mais clara e nítida de que o pecuarista brasileiro está empenhado em expandir o rebanho.

Antes víamos como um movimento inicial liderado pelo Mato Grosso, o maior estado pecuário do país. Os dados do Indea-MT apontavam que desde 2019, as vacas menos jovens estavam sendo mantidas nos rebanhos, possivelmente boas matrizes.

Nesta semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dos dados de abate do Brasil. O órgão apontou um abate de fêmeas de 2,41 milhões de cabeças, o menor número entre os primeiros trimestres dos últimos 18 anos.

Ou seja, movimento de retenção de fêmeas também em 2021, assim como em 2020. Geralmente, primeiro trimestre é marcado como um período de descarte de animais que não emprenharam na última estação de monta. O que ocorreu foi o contrário, um movimento de retenção forte e histórico, vide que o número foi o mais baixo desde 2003.

Sempre menciono neste espaço que a pecuária é mais uma ciência biológica do que matemática. Por isso é difícil saber o momento exato das viradas de ciclos, de aumento mais relevante da oferta, quando olhamos para um horizonte de meses.

No entanto, este dado do IBGE mostra que a disponibilidade de animais terminados deve seguir relativamente enxuta durante os próximos meses, porque o pecuarista está com a pá cheia e colocando mais carvão nessa fábrica de bezerros.

Para reforçar esse cenário vale a pena mencionar também o abate total de bovinos no primeiro trimestre de 2021, que caiu 10,6% na comparação com o mesmo período de 2020, para 6,56 milhões de cabeças.

Com um ano de chuvas abaixo da média, grãos caros e mais sinais de retenção de matrizes/bezerros é difícil pensar em uma entressafra com preços pressionados. O confinamento é uma via estratégica de engorda, mas o cenário adverso de insumos concentrou ainda mais esta atividade em 2021 em grandes pecuaristas e/ou de alta tecnologia.

Este cenário se concentra mais entres grandes pecuaristas e grandes frigoríficos. Caso haja uma recuperação da demanda interna, a busca por matéria-prima dos pequenos e médios frigoríficos pode dar uma “apimentada” nas cotações dos animais terminados.

***Texto originalmente publicado no informativo pecuário semanal “Boi & Companhia” nesta última quinta-feira (10/jun) da Scot Consultoria***