Por Leandro Bovo da Radar Investimentos

Mais uma semana se passou sem nenhuma manifestação dos chineses com relação à auto suspensão das exportações brasileiras de carne bovina para lá. O “silêncio ensurdecedor” do nosso principal parceiro comercial aumenta a preocupação de frigoríficos e pecuaristas a cada dia que não temos um posicionamento das autoridades chinesas a esse respeito.

As especulações sobre quando essa volta acontecerá são as mais variáveis possíveis, porém a realidade é que ninguém tem nenhuma informação verdadeiramente relevante sobre quando isso irá ocorrer. Uma vez que a OIE já deu o caso por encerrado e manteve o status de risco do Brasil inalterado para a BSE, não existem justificativas técnicas para a manutenção do embargo, porém também não existe um prazo limite para os chineses analisarem as nossas informações e retomarem as compras, de modo que agora ficamos inteiramente nas mãos da decisão do governo chinês nessa questão.

A cada dia que passa vai ficando menor a margem de manobra dos pecuaristas de segurar a vendas dos animais á espera da normalização do mercado e muitos acabam tendo que entregar nos preços vigentes para evitar prejuízos maiores. Com isso, a referência de negócios em São Paulo já se situa ao redor do patamar de R$ 300,00/@, com o último indicador Esalq a R$299,30/@.

Um fator que tem chamado atenção no mercado foi a manutenção de um ritmo fortíssimo de exportação durante o mês de setembro, ritmo esse que se mantido poderá significar um novo recorde de embarques de carne bovina brasileira em um único mês. Acompanhe na tabela abaixo.


210924_expt-5977290

Se considerarmos apenas China (descontando a participação de Hong Kong) eles absorvem cerca de 50% de tudo o que o Brasil exporta de carne bovina, sendo muito pouco provável que esse volume tenha sido direcionado a outro comprador nesse curto intervalo de tempo, de modo que o mais provável é que os exportadores seguem embarcando carne produzida antes do embargo para a China. Ainda não está claro se esse embarque estava liberado ou não e a aposta de quem embarcou foi que essa situação esteja definida até a chegada da carne em território chines, o que leva ao redor de 30 dias. Essa aposta, no entanto, representa um risco adicional para toda a cadeia pecuária, pois se os chineses se aproveitarem dessa situação para tentar tirar qualquer proveito comercial, infelizmente isso também terá reflexos no mercado físico de boi gordo.

Por enquanto seguimos torcendo pelo melhor, mas é obrigação de todos analisar a situação e já ter um plano “B” definido para caso o melhor não aconteça. Quem fez a lição de casa e aproveitou os preços do mercado futuro para fixar preços ou para comprar seguro de preço mínimo irá enfrentar essa espera de uma forma mais confortável.

***Texto originalmente publicado no informativo pecuário semanal “Boi & Companhia” nesta última quinta-feira (23/set) da Scot Consultoria***