Por Douglas Coelho da Radar Investimentos
Os últimos dias têm sido difíceis para a pecuária nacional. A queda brusca da arroba depois de longos meses de garrote e boi magro caros em 2021, com uma dieta também de custo alto, gera um cenário grave, que tem comprimido as margens dos confinadores em boa parte das praças.
Falar em gestão de risco neste momento é o equivalente a consertar um telhado em meio à tempestade.
O protocolo de quantificar quantas arrobas seriam produzidas, cotar um seguro de preço mínimo (também chamado de put, no jargão do mercado) para o mês de abate era um passo que deveria ser feito com o mercado em viés de alta. Talvez essa seja a grande lição dos últimos dois anos.
Mesmo com todo o esforço das autoridades brasileiras para a retirada do embargo da China, o silêncio paira. A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) não alterou o status do Brasil para “vaca louca” e o risco para a doença, que foi o motivo para a suspensão, continua insignificante no Brasil. Ou seja, não é um caso de saúde animal, mas sim comercial e/ou governamental.
No entanto, no âmbito político e comercial, toda moeda de troca é feita com base em concessões de produtos e interesses. A China tem tido outros problemas grandes, como a crise energética e imobiliária neste momento. Além disso, as preocupações atuais com a inflação não se restringem apenas no Brasil, mas também na China, EUA e outros. É uma preocupação global.
Saindo do macro e olhando para o micro
O que ocorre hoje no mercado físico do boi gordo é um “stop” em boa parte das regiões produtoras.
O produtor menos capitalizado, que não teria condições para segurar os animais no cocho em função das chuvas mais frequentes e do custo elevado do trato, tem desovado parte das boiadas em meados de out/21. Por outro lado, a indústria tem negociado volumes menores de animais, cadenciado o abate e saído das compras de maneira rotineira. Isso trouxe os preços de balcão para R$260,00-R$265,00/@, à vista, em SP, até esta última quinta-feira (21/out).
O mercado futuro da B3 tem negociado os ânimos e as frustrações em relação à volta da China. Devemos ser realistas e ter memória para lembrar que em 2019 a suspensão durou 14 dias, mas em 2012 com um caso similar, a reabertura ocorreu apenas em 2014. Ao mesmo tempo recordar que gradativamente a saída de animais de confinamento tende a ficar menor em novembro e dezembro.